A ARTE DE AMAR
Caro leitor,
rendo-me a esta história de amor.
A mítica
história de Inês de Castro me faz lembrar “Romeu e Julieta”, de Shakespeare,
“Tristão e Isolda”, de Richard Wagner, “Ruslan e Ludmila”, de Mikhail Glinka,
“Abelardo e Heloísa”, bem como de Chah Jahan e Mumtaz-i-Mahal.
Inês nasceu na
Galiza em 1320 ou 1325, fidalga descendente de família real por via ilegítima
era prima de D. Pedro e veio a ser aia de D. Constança Manuel, filha de um
descendente dos reinos de Aragão, Castela e Leão, prometida do príncipe de
Portugal. Cabe registrar que o nosso D. Pedro I era, em Portugal, D. Pedro IV.
Inês veio com o
séquito de D. Constança, e o amor proibido com D. Pedro logo se consumou, o que
não foi bem visto por D. Afonso, que ordenou o exílio de Inês, mas não afastou
o amor de ambos que continuaram a se corresponder.
D. Constança
morreu ao dar à luz e D. Pedro trouxe Inês para a Quinta das Lágrimas, onde
passaram a viver seu grande amor. O caso de amor, todavia, incomodava a corte e
os nobres.
D. Afonso, pai
de D. Pedro, foi convencido por três de seus conselheiros que o melhor seria
assassinar Inês de Castro e o fizeram impiedosamente.
Após a morte de
D. Afonso, Pedro subiu ao trono de Portugal e, ainda, pretendendo vingar-se,
requisita a Castela seus algozes que lá haviam se refugiado. O Rei, O Cru,
escolhe uma morte vil para os assassinos, arrancando-lhes o coração.
Segundo a lenga,
Inês foi coroada rainha depois de morta.
D. Pedro mandou que colocassem o corpo de Inês no trono, colocou uma
coroa em sua cabeça e obrigou os nobres a beijar a mão do cadáver.
Na obra “Os
Lusíadas”, assim imortalizou Camões:
“Tais contra
Inês os brutos matadores,
No colo de
alabastro, que sustinha
As obras com que
Amor matou de amores
Aquele que
depois a fez Rainha,
As espadas
banhando e as brancas flores,
Que ela dos
olhos seus regadas tinha,
Se escarniçavam,
férvidos e irosos
No futuro
castigo não cuidosos.”
“Bem puderas, ó
Sol, da vista destes,
Teus raios
apartar aquele dia,
Como da seva
mesa de Tiestes,
Quando os filhos
por mão de Atreu comia!
Vós, ó côncavos
vales, que pudestes
A voz extrema
ouvir da boca fria,
O nome do seu
Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande
espaço repetistes.”
“Assim como a
bonina, que cortada
Antes do tempo
foi, cândida e bela,
Sendo das mãos
lascivas maltratada
Da menina que a
trouxe na capela,
O cheiro traz
perdido e a cor murchada:
Tal está, morta,
a pálida donzela,
Secas do rosto
as rosas, e perdida
A branca e viva
cor, com a doce vida.”
“As filhas do
Mondego a morte escura
Longo tempo
chorando memoraram,
E, por memória
eterna, em fonte pura
As lágrimas
choradas transformaram.
O nome lhe
puseram, que inda dura,
Dos amores de
Inês, que ali passaram,
Vede que fresca
fonte rega as flores,
Que lágrimas são
a água e o nome Amores.”
Hoje, jazem no
Mosteiro de Alcobaça, frente a frente para que “possam olhar-se nos olhos
quando despertaram no dia do Juízo Final.” Cést l’avie, c’est l’amour.
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